Troian concedeu uma entrevista recentemente ao site The Mighty, onde falou sobre o porque de ter feito Feed de uma maneira diferente dos outros filmes sobre distúrbios alimentares. Confira traduzido abaixo:

Histórias de distúrbios alimentares são normalmente contadas vindo de fora. Você sabe a história: uma garota tem problemas de auto imagem, a garota começa a restringir comida, talvez tenha uma intervenção e finalmente, a garota começa sua jornada para a recuperação.

Quando a estrela de “Pretty Little Liars”, Troian Bellisario começou a trabalhar nesse filme inspirado em sua experiência pessoal com os distúrbios alimentares, ela queria contar uma história diferente – uma vista de dentro. Seu filme, “Feed”, no qual ela escreveu e estrela, não é uma história estereotipada dos distúrbios alimentares mas uma tentativa de capturar o que está realmente acontecendo dentro da cabeça de alguém com distúrbio alimentar.

“Quando comecei a olhar para esses personagens com distúrbios alimentares e a maneira que eles eram observados vindo de fora, eu fiquei meio, ‘Bom, isso não ajuda.’ Não tem um filme que eu possa apontar para que meu pai ou meu irmão possam entender porque eles me disseram para comer o sanduíche, e eu simplesmente não podia,” ela conta ao The Mighty.

A dinâmica dos gêmeos nos distúrbios alimentares

Menos de um mês depois da estreia do filme (e mais de um mês depois da finale de PLL) conversamos com Bellisario sobre o que a inspirou a fazer “Feed” e o quão parecida ela é com sua personagem, Olivia.

“Feed” não começa com o desenvolvimento de um distúrbio alimentar. Ao invés disso, somos apresentados aos gêmeos, Olivia Gret e Matthew Grey que estão começando o primeiro dia do último ano do ensino médio. Naquela noite, Matthew morre tragicamente em um acidente de carro enquanto Olivia, sentada no banco do passageiro, sobrevive. Esse trauma é o que catalisa Olivia a cair na restrição alimentar. Seu irmão aparece e conversa com ela, encorajando o comportamento e descobrimos que ele é o próprio distúrbio alimentar.

Enquanto crescia, os melhores amigos de Bellisario eram gêmeos, um menino e uma menina. Embora ela diga que eles não são os personagens que inspiraram Olivia e Matthew, a proximidade e a dinâmica dos gêmeos ressoou. Quando um deles disse, “Eu não sei o que eu seria sem meu gêmeo em minha vida,” lembou a identidade que ela construiu com seu distúrbio alimentar. Ela conta ao The Mighty:

A identidade deles no mundo é emparelhada, é duplicada, e eu acho que é algo que pessoas com problemas mentais também passam quando começam a procurar tratamento Se você se mover no mundo como alguém que se identifica anoréxico, ou que se identifica como alguém lutando contra a bulimia ou com excesso de comida, o que acontece quando você começa a forjar uma nova identidade? Tem uma traição com seu eu anterior? Você está mentindo? Ou você está “melhorando”? Algum dia vai embora? Isso é parte da sua identidade. A maneira que Olivia é uma gêmea e seu gêmeo não está mais vivo, ela não é mais gêmea agora? Para mim, isso também é algo que eu queria explorar.

Ela também esperava representar os distúrbios alimentares como uma gêmea que mostraria porque comportamentos desordenados são tão difíceis de largar. Distúrbios alimentares, ela disse, não são só distúrbios – eles atuam como amigos. No filme, Olivia teve dificuldade para largar seu distúrbio alimentar porque isso significaria largar seu irmão – e que ela não conhece a vida sem ele.

O que eu queria fazer era criar um situação em que eles pudessem ver a manifestação física da doença mas também o quão próxima é das pessoas. É por isso que tinha que ser o gêmeo da Olivia, Matt, que é tudo para ela. Porque eu precisava que todos entendessem que não é só uma doença. É seu melhor amigo. É seu segredo. É sua força. É sua fraqueza. É tudo em um só, e é por isso que é tão difícil de cortar.

Onde a história de Bellisario e Olivia colidem

Em uma cena inicial, Olivia está conversando com o diretor, que lhe diz que ela tem as notas mais altas da turma e vai poder ser a líder da turma. Em vez de parecer entusiasmada, Olivia percebe que ainda tem um ano escolar inteiro e se recusa a comemorar antes. Ele então a entrega uma longa lista de faculdades para se inscrever, e ela pega ansiosamente. Depois, quando ela vai correr antes do jantar, seu pai a questiona porque ela não corre mais. Antes de sabermos sobre o distúrbio alimentar, vemos Olivia como uma perfeccionista e está sendo colocado em um nível de pressão de sua família.

Filha de dois produtores, Bellisario não estranha altos padrões e íngremes expectativas, embora admitiu que algumas delas foram auto-impostas. Ainda sim, se tivesse um diagrama de Venn de sua história com a da Olivia, Bellisario disse que perfeccionismo seria a principal sobreposição:

Particularmente quando meu distúrbio alimentar começou a se manifestar de uma maneira forte, foi definitivamente porque eu não sentia que tinha uma maneira de sair. Eu sentia que eu tinha que me segurar em um certo padrão de desempenho acadêmico, ou desempenho atlético, de ser a filha perfeita da melhor maneira que eu podia, e se esses padrões fossem ou não impostos em mim, era só eu me impondo porque eu acreditava que o mundo queria mais de mim.

Porque filmar não foi a parte mais difícil

Para se preparar para o papel, Bellisario teve que entrar em um lugar obscuro do seu passado – emocionalmente e fisicamente. E enquanto ela tinha que seguir uma certa restrição em uma dieta para perder peso, ela disse que restringir não foi a parte mais difícil – foi parar depois que o filme acabou de ser filmado. Porque, em sua experiência, um distúrbio alimentar é um mecanismo de enfrentamento para ajudar a lidar com um problema mais profundo, e ela descobriu que se relacionar com os hábitos antigos a ajudaram a lidar com o estresse. Mas veio com um custo:

Eu tive permissão de voltar para esse mundo, e a parte mais difícil foi me livrar desses hábitos… Eu estava divulgando o filme e eu estava falando sobre ele. Então a luta voltou, Ok, estou falando sobre todos esses sentimentos, mas não posso voltar a restringir.. Não estou filmando agora, eu preciso continuar fazendo a escolha da saúde. Isso, para mim, foi a parte desafiadora. Foi, na verdade, me envolver com esses sentimentos que o filme trouxe mas não poder me envolver de uma maneira desordenada.

O que Bellisario espera que você tire disso

Enquanto Bellisario disse que “Feed” foi uma reação de como os distúrbios alimentares são representados na mídia, também foi uma reação para como as pessoas em sua vida trataram seu distúrbio alimentar. “Por mais cuidadosos que eles foram e por mais que eles queriam entender o que eu estava passando… Foi como se eles tivessem simpatia e não empatia,” ela disse. “Eles tinham a simpatia porque ficavam meio,’Eu posso ver que você está sofrendo, eu posso ver que é doloroso, eu vejo que você está envolvida em uma guerra com seu corpo,’ mas não tinha empatia porque eles não conseguiam se encaixar dentro da experiência, e no meu corpo.”

Ela espera que o filme ajude amigos e família a reconhecerem quando seu ente querido está lutando com isso. Muitas vezes, ela dsse, nos estados iniciais do seu distúrbio alimentar, alguns amigos e família perceberam que algo estava errado mas não tinham certeza do que procurar. Ela também quer que esses que estão lutando se sintam compreendidos e vejam que, como Olivia, eles merecem tratamento e dar os passos para a recuperação. Ela contou ao The Mighty:

Eu só quero que as pessoas vejam esse filme e tenham uma expectativa diferente do que parece ser lutar contra isso, e eu acho que é importante que eu não sou a única voz que fala sobre isso. Eu quero adicionar mais pessoas na conversa, e apoiar essa conversa.

Bellisario recebeu apoio da NEDA durante o processo de fazer o filme, e para devolver o favor, ela está vendendo camisetas de Feed com os gêmeos e todo o valor vai para o NEDA. Ela disse que a melhor reação que ela recebeu do filme foi das pessoas com distúrbios alimentares – para quem, ela disse, o filme foi realmente feito.

“Acho que esse filme foi importante para mim porque é minha jornada de recuperação e levar minha experiência e levar todas as experiências que eu ouvi, e canalizar no meu trabalho e na minha arte, para sentir que não perdi uma parte da minha vida. Ou que uma parte de mim não morreu e se foi, que eu posso ser algo que se torne um presente criativo e positivo que eu possa dar para outras pessoas,” ela diz, rindo. “Então, é muito para pensar.”

Fonte: The Mighty