Troian conta para o site Lenny Letter como é sua relação com seu distúrbio alimentar em uma redação emocionante. Confira traduzida abaixo:
Estávamos nadando a segunda volta no lago quando eu parei de sentir meus dedos. Quando você pula pela primeira vez na água gelada você grita, procura por ar, mas imediatamente ri porque isso te faz sentir extra vivo. Você aprende, depois de alguns pulos, que você não precisa temer o frio. Você se move, e some. Logo, como se você estivesse dentro de uma casa olhando uma tempestade de neve que bateu ligeiramente na janela. Você sabe que tem frio ao seu redor, mas não pode te machucar.
Por um tempo, esse tipo de entorpecimento me fez sentir invencível.
Mas agora, talvez meia hora depois na água, o frio voltou, e não só apenas do lado de fora da janela, está na minha pele. Sob a superfície, eu provavelmente parecia como um peito de frango sentado sob o plástico em uma geladeira de mercearia, palida e em pimpo. Então está em minhas juntas, dificultando o movimento. Logo, está em meus ossos, tanto que mesmo que eu soubesse que estava chutando minhas pernas, eu não conseguia dizer onde elas terminavam e onde a água começava. Eu não tinha certeza se tinha mais dedos.
De repente, eu estou em um território muito familiar. Eu sabia que deveria sair da água antes de me machucar ou ficar doente, mas eu não fiz isso. Só continuei nadando.
Aqui estou, 31 anos de idade, e ainda estou negando ao meu corpo a única coisa que ele está me pedindo para fazer: cuidá-lo.
Quando eu gravei o piloto de PLL, era dezembro em Vancouver, e eu tinha 24 anos. Estávamos gravando uma cena de verão (o exterior do funeral da Alison, a queen B de Rosewood), e mesmo que eu não lembre o quão frio estava do lado de fora, eu posso afirmar que estava muito frio para nevar. As meninas e eu estavámos vestidas em vestidos curtos pretos com saltos. Depois, na edição, eles aumentaram a saturação, colocaram um efeito dourado e BAM, parecia que estávamos suando em julho. Mas enquanto estávamos gravando, bem, era dezembro no Canadá.
“Gravando!” gritou o assistente do diretor, e alguém aparecia para tirar os casacos dos nossos ombros rapidamente. Todos assistiam, esperando que conseguíssemos a cena antes que nossas mandíbulas trancassem e nossos ombros chegassem nas nossas orelhas. Eventualmente, Leslie, nossa diretora, gritava “Corta!” e as lindas e quentes jaquetas desapareciam.
Querendo ser o mais profissional possível, eu puxei de volta o muco que estava ameaçando destruir cada take e forcei meus ombros a ficarem onde estivessem, mesmo que eu pudesse ver minha respiração no ar. Eu olhei em volta: Lucy, Ashley e Shay pareciam com frio mas bem; elas pareciam profissionais, poderosas. Porque eu não era assim? Eu empurrei esse pensamento pra longe. Engula isso, Bellisario, faça seu trabalho;
Então veio o ponto onde eu mencionei de improviso, “Huh, eu não sinto meus pés.” “Pare!” uma voz gritou, e um anjo em forma de membro da equipe veio até mim e exigiu que eu a seguisse para dentro da igreja perto de onde estávamos filmando.
Ela me sentou, tirou meus sapatos, e começou a esfregar meus pés. Ela me pediu para avisar quando eu estivesse sentindo eles novamente. “Não se preocupe com meus pés! Eles estão ótimos!” eu tentei me afastar dela, meus olhos indo até a equipe que estava esperando ali perto. Eu estava atrasando a produção, uma produção que custa milhares de dólares por minuto, tudo por um comentário estúpido sobre meus pés estúpidos. Eu comecei a entrar em pânico. Todos iam pensar que eu sou uma diva, que eu não posso fazer isso, que sou uma atriz horrível e que eles nunca iam querer trabalhar comigo novamente.
Mas o anjo permaneceu resoluto. Ela me disse que ela trabalhou com pessoas que perderam os dedos por congelarem, e ela não ia ver eu perder os meus. Eventualmente, eu anunciei (com sinceridade) que estava sentindo meus pés novamente, e ela me deixou ir.
Eu me preparei para receber gritos de alguém, qualquer um, em posição de autoridade. Como você ousa segurar essa produção? Como você pode ser tão fraca? Tão exigente! Mas não teve punição, nem mesmo um olhar de canto. Todos só me perguntaram se eu me sentir melhor e se estava pronta para voltar a cena.
Porque eu precisava de permissão de um completo estranho para cuidar de mim mesma?
Sete anos depois (e mais sábia?), lá estava eu, nadando em um lago por diversão, e ainda sim não podia fazer isso. Meu amigo e eu casualmente concordamos de tentar por três vezes na volta do lago. Era um desafio divertido quando anunciamos brincando para o resto dos amigos e família. Mas agora, vindo do corredor da segunda volta, eu podia sentir meus membros se fechando. Assim como em Vancouver, apesar do meu corpo desesperadamente precisar de algo, eu não queria parecer fraca ou desapontar as pessoas. Onde estava meu anjo para cuidar de mim agora?
E daí? Você pode dizer. Não seja doida; você pode sair da água a qualquer momento. Quem se importa? Boa pergunta. Eu me pergunto isso todo o tempo. Quem se importa se eu não posso nadar todo esse tempo na água fria? Quem se importa se eu preciso parar uma cena para cuidar dos meus dedos. Quem se importa?
Eu me importo, disse uma voz familiar em minha cabeça. Oh, certo. Você;
Minha amiga é uma nadadora de longa distância e ela parecia com frio mas pronta para continuar.
“Troian, você quer parar?”
Aquela voz, aquela voz familiar atrás do meu crânio me diz que se importa. Se importa se eu exijo coisas de uma produção, se importa se eu sair cedo, se eu falhar. É uma voz que eu conheço intimamente; é meu maior e melhor inimigo. Eu sei o que essa voz vai dizer se eu parar. Eu sei da encrenca que eu estaria.
“Não,” eu disse, meus dentes tagarelando de excitação. “Estou bem!” ela não estava caindo nessa, mas combinando com minha determinação, fomos assim mesmo. Quando voltamos, quem animou os frios e cansados guerreiros? Quem elevou a honra e nos alimentou com bebidas quentes para comemorar? Ninguém, porque esse era um desafio necessário para ninguém além de mim mesma. Não tinha grande competição, exceto entre eu e meu corpo e minha cabeça.
Como alguém que luta contra uma doença mental, meu maior desafio é que eu nem sempre sei qual voz dentro de mim está falando. A voz do meu corpo, a que diz, Troian, estou com frio, me tire do lago, ou minha doença: Você disse a todos três vezes, então você não pode desapontá-los. Você é suficiente. Quem liga para a diferença entre duas e três vezes? Eu ligo.
Tem uma parte do meu cérebro que desafia a lógica. Uma vez, me convenceu completamente que eu deveria viver de 300 calorias por dia, e em algum momento, me disse que isso era muito. Aquela parte do meu cérebro é minha doença, e teve uma época que isso tinha autoridade absoluta sobre mim. Quase me matou, e você pode ver que mesmo se eu tivesse vivido em recuperação por 10 anos agora, ainda acha maneiras divertidas e insidiosas para me impedir até hoje. Foi uma jornada difícil encontrar meu caminho de volta a saúde. Durante uma introspecção difícil, cuidados médicos e mentais intensos, uma família que me apoia, amigos, e um paciente e amável parceiro, eu sobrevivi, o que é raro.
Mas eu não quero só sobreviver aquela parte da minha vida. Eu quero criar em rebelião. Eu quero parar de olhar para os relógios. Eu quero pintar todo o chão e construir uma parede de feedbacks no amplificador tão alto para que eu grite acima dele e de frente para minha doença: EU SOU SUFICIENTE!
Não é assim tão fácil. Às vezes ainda me encontro sendo empurrada por um mestre invisível, trabalhando até o ponto da exaustão, nadando com dedos entorpecidos. A voz da minha doença está comigo todos os dias. Eu estou praticando ignorá-la, pela maior parte do tempo, mas ainda está aqui, encontrando novas maneiras de me prejudicar. É por isso que eu escrevi Feed. Eu queria canalizar aquela voz dentro de uma história e fora de mim. Eu queria criar uma personagem que também se perguntava se ela era suficiente.
Escrever, produzir e atuar nele me ajudou a obter mais um grau de separação da minha doença no que eu sei que vai ser uma vida de recuperação. É minha maior esperança que alguém que assista, que luta com os mesmos desafios que eu luto, pode pensar, E se eu sou suficiente também? Então com toda a coragem que posso reunir, eu dou isso a você, eu dou isso para essa pessoa, na esperança que isso a faça se sentir suficiente.
Talvez no momento que você assista, eu vou ter saído da água fria e estarei me aquecendo no sol.
Troian Bellisario escreveu, produziu e estrela no filme independente Feed, que foi lançado pela Sony Pictures nas plataformas digitais americanas hoje, 18 de julho.
Fonte: Lenny Letter