Troian foi convidada para escrever um artigo para a Darling Magazine, onde ela conta sua história com os distúrbios alimentares. Confira traduzido abaixo:

“Cantadora”, diretamente traduzido do espanhol, significa cantora, mas o termo pode significar muito mais que isso. Redefinido por Clarissa Pinkola Estés, uma cantadora é uma mulher que mantém as histórias de uma comunidade e compartilha elas quando ela acredita que ela pode ajudar alguém que precise. Como atriz e escritora, eu sei muitas histórias – grandes histórias, nas quais pessoas com superpoderes podem derrubar prédios, fazer os oceanos se dividirem, elas podem não conseguir salvar a pessoa da qual elas mais se importam. Eu não posso voar (dã), mas eu também, já me senti sem poder nenhum de salvar alguém de sua própria destruição. Eu sei essa história.

Eu sei outras histórias, menores mas não menos poderosas: a história que uma mãe conta nas horas quietas depois da meia noite para seu filho cujo coração está quebrado, a história da criança que veio antes dela, a história da perda silenciosa dessa mãe (um nome raramente dito mas nunca esquecido). Seu coração sentia que não poderia mais continuar batendo, e aí… você. Não tema os momentos sombrios; eles antecedem as maiores alegrias. Como um farol quebrando o céu, às vezes uma história pode guiar seu navio com segurança pela tempestade e voltar para o porto.

Eu sei outra história…

Eu me apaixonei uma vez, tinha 16 anos, quase 17, e eu me apaixonei. Tem algumas razões por ter me sentido boba sobre isso agora – envergonhada, dolorida – até os dias de hoje, mas antes que você saiba essas razões, saiba disso: Quando me apaixonei por essa… pessoa, eu me senti como você com seu primeiro amor. Eu senti todas as coisas lindas que amar alguém faz você se sentir no começo: invencível, vivo, destemido, desejado, habilitado e no caminho certo na vida. A única coisa estranha era, eu não sabia como era essa pessoa. Ele não estava no time de futebol; ele não era presidente de turma. Para ser honesta, eu não podia dizer se essa pessoa era ele ou ela porque, bom, eu nunca conheci eles. Um dia, eu apenas os ouvi… dentro da minha cabeça.

Ensino médio é mais estressante do que pensamos, certo? Você tem que tirar boas notas. De fato, o único jeito de ter certeza de tirar boas notas, inequivocamente. é tirar as melhores notas, mas você pode fazer isso. Eu acredito em você. Você também tem que correr atrás do sonho de se tornar atriz. Oh, inscrições para a faculdade estão chegando! Você deveria ir ao conselho estudantil para deixar mais fácil a aprovação, mas não negligencie as atividade extra curriculares e serviço comunitário! Tanto para se preocupar – como você vai fazer tudo isso?

E se eu te contasse que eu tenho um plano para que você consiga alcançar tudo? Confie em mim, porque as outras pessoas vão te decepcionar. Como elas poderiam? Elas não são você! Elas tem que se preocupar com elas mesmas. Só eu posso tomar conta de você, porque eu sou você.

A voz não era minha, mas era eu. Ele era… vamos chamá-lo de Ed… Ed era meio que minha consciência, mas mais legal. Ele era inteligente, me apoiava e parecia focado em fazer minha vida melhor. Ed me disse que a razão porque eu estava estressada era porque eu não conseguia controlar as coisas fora de mim mesma: o tempo, uma afeição por um garoto, um número de capítulos que eu seria testada na próxima sexta. Eu me senti horrivelmente impotente, mas, com a ajuda dele, eu poderia criar um sistema simples de checagem e balanço que iam me ajudar a sentir um senso de controle. Se eu tivesse controle, eu teria confiança, e nisso, uma chance melhor de atingir meus objetivos. Ele era uma arma de uma adolescente insegura, surtada. Eu definitivamente tive um crush.

O sistema do Ed era tão fácil. Eu estudava quando (e por tanto tempo) ele dizia “estude” e eu sempre gabaritava os testes. Dissemos “não” para aquela festa (muitas opções para perder o controle) e ficamos em casa para trabalhar em um monólogo. Para me ajudar com o sistema, ele me recompensava com presentes… Você gabaritou esse teste? Ganha um biscoito! Você arrasou nessa inscrição para a faculdade? Tenha uma ajuda extra no jantar para celebrar. Você preencheu 12 inscrições para a faculdade? Vamos ver aquele filme que você queria ver. Coma pipoca com manteiga!

A relação era incrível. Ele era como um time inteiro de líderes de torcida e um namorado apoiador no papel de uma pessoa só. E a melhor parte? Funcionava. Eu estava tendo sucesso em tudo.

Às vezes, eu descobria que Ed podia ser um pouco mau – mas só quando eu não ia tão bem quanto ele pensava que eu podia. Depois de tudo, o que é um sistema de recompensa sem punição? Às vezes, ele me ensinava, punição é até uma motivação melhor.

Sem punição, amor, gratificação atrasada! Você foi tão bem no teste dessa semana; vamos estudar mais para o próximo. Você está acostumada a receber A’s, então porque você receberia um biscoito por um A? Você terá um biscoito quando receber três A’s. Além disso, você notou quantas calorias tem nesse biscoito? Ache um biscoito com menos calorias ou tome um café da manhã com menos calorias para que você possa justificar comer o biscoito depois. Há poucas coisas que você pode contar no momento, mas esses números nutricionais na parte de trás da embalagem são fáceis de ver. Hey, eles podem ser parte do seu sistema! Amor, escolha um número, qualquer número e não coma mais que isso – desse jeito, você vai saber com certeza que tem controle de si mesma. Você conseguiu! Talvez podemos ter mais controle escolhendo um número menor semana que vem? Restrição de exercícios, o mais forte você vai ficar, mantenha o controle de tudo que você come… O quão baixo você pode ir?

Eu comecei a pular o lanche com o Ed para que pudéssemos trabalhar nos créditos extras. Então, começamos a pular o jantar para estudar durante a noite. Então, pulamos o café da manhã para acordar cedo para ir na reunião do conselho estudantil. Sim, eu estava com fome, mas tudo estava funcionando. Meu objetivo de calorias a cada semana eram definitivos, e abaixados até ficarem estáveis, fáceis de acompanhar.

Um dia meu pai me ofereceu um biscoito; Ed recusou, sacudindo minha cabeça por mim.

“Você é tão boa, amor”, meu pai disse, comendo o biscoito. “Muito mais controlada que eu.”

“Isso não parece bom?” Ed sussurrou. “Todos te invejam.”

“Comer aquele biscoito me faria sentir muito melhor,” eu pensei com fome.

Ainda sim, eu não ousava desafiar o Ed; ele era muito forte, e sem ele onde eu estaria? Imagine isso. Se minha mente fosse uma casa de bonecas, dentro, a antiga eu estava ficando menor e menor, enquanto Ed crescia, enchendo os quartos, iminente em mim. Ele alimentava minha fome e crescia com elogios, enquanto meu próprio corpo se esvaia.

No começo, seguir as sugestões dele me fizeram sentir como se eu estivesse no controle da minha vida, mas logo, Ed me aliviou desse fardo. Ele não dava mais sugestões, só mandava. Ele me mandava fazer trabalhos que nunca estavam terminados, prometendo recompensas que nunca chegaram. Uma vez eu fui até uma colina, Ed me disse para escalar a montanha.

Estou tentando fazer da sua vida algo maravilhoso. Eu não ligo se você está cansada e nenhuma das suas blusas serve. Estou fazendo isso por você. Será que preciso tirar todos os privilégios da comida para ser claro, mocinha?

Quem era esse cara?

Para minha família, foi ótimo. Eu tinha ótimas notas, estava envolvida com tudo na escola e ia ter uma educação da Ivy League. Eu estava me tornando uma melhor versão de mim mesma; eu estava apenas desaparecendo. Eu não estava com fome? Eu comecei a notar que todos sempre tinham olhos tristes sempre que falavam comigo.

“Querida, você precisa ganhar peso,” disse *insira parente preocupado*

“Ok,” Eu diria, encarando meus All Star, pensando sobre a próxima coisa que Ed tinha na agenda. “Porque você não come o sanduíche então?” Ed chocou sua cabeça em mim.

“Não é tão simples,” era tudo que eu conseguia dizer. Se Ed me deixasse em paz por um segundo, eu gritaria. “Porque comer o sanduíche não vai me tirar desse inferno de relação; não vai me ajudar a terminar com o Ed. Não vai fazer minha vida melhor! De fato, se eu comesse aquele sanduíche, ia me fazer sentir pior, ainda mais fora de controle do que eu já sentia. Aquele pão (duas fatias aproximadamente 150 calorias cada) e com maionese (provavelmente 200 calorias) e três pedaços de carne (mais 150/275 calorias, dependendo dos ingredientes do processo da carne) e tem vegetais assados em cima, que não são apenas 25 calorias por copo, mas são feitos com óleo de oliva, então adicione mais 100 calorias para a coisa toda e termine com 900 calorias, o que é a quantidade que eu comi semana passada quando me apresentei no musical e tirei um 5 no teste de biologia. Então, você entende agora, porque comer esse sanduíche ia me fazer sentir como se eu tivesse retrocedendo em minha vida, perdendo controle das minhas emoções, minhas realizações e minhas habilidades? E francamente, (parente preocupado), o segundo que você me ver comendo o sanduíche, você vai me considerar “melhor”, e você vai ir embora, me deixando sozinha, de novo, com o Ed.”

Ed sorriu para mim, “Agora você entende, menininha.”

Minha pobre família e amigos – eu assisti a todos eles tentarem entender, ter empatia, ajudar. Cada um deles culpou as paredes da minha mente como soldados, apenas para ser afastado por esse monstro que deram a luz. Ele sentou perto de mim como uma hydra, escolhendo as frases, empurrando as declarações de apoio, sussurrando em meu ouvido que eu não podia confiar neles. Porque? Por que o amor deles ameaçava nosso amor, porque escutar eles seria desmanchar todo o trabalho duro que eu tinha feito sozinha para me proteger dos desapontamentos do mundo, da falha inevitável que estava sempre a espreita, do inesperado… Deles.

Nosso sistema funcionou! Você tem tudo que queria, tudo que eles esperavam que você conseguiria! Você é uma formanda, aceita nas 12 melhores faculdades da America. Você sobreviveu as noites mais sozinhas e sombrias da sua adolescência. Você nunca usou drogas; você não bebe. Você é perfeita.

Sim, Ed, eu só estou me matando lentamente.

Tivemos que terminar. Se eu continuasse ouvindo ele, eu estava marchando para minha própria cova, mas não tinha escapatória. Eu não podia só bloquear o número dele e evitá-lo na escola. De noite, ele deitaria do meu lado e me convenceria que ele podia fazer tudo melhorar. No banho, ele ia negociar comigo. Ele ia se agachar na minha garganta, sua mão na minha boca me fazendo não conseguir comer, respirar ou contar para alguém.

É isso.

Isso é o que eu tinha que fazer: contar para alguém sobre o Ed, não só as partes ruins, como ele estava me machucando; isso seria fácil. Eu tive que contar a história das melhores partes. Eu tive que contar a história de como ele me ajudou, talvez me salvou, e como, agora, eu precisava dizer adeus antes que fosse tarde. Eu tive que contar nossa história, nossa história de amor, para que meus amigos e família pudessem entender e me apoiar durante o término, para que outras pessoas que tenham seus próprios DA (distúrbios alimentares) possam ver que eles podem terminar também. Então, eu sentei e escrevi.

Eu sei de uma história, a história de uma garota – não eu, mas alguém como eu; não você, mas alguém como você. A história que agora é um filme chamado “Feed”. A cantadora, a mulher com a história que ajuda, que cura. Escrever e fazer “Feed”, me ajudou a curar. É minha maior esperança que, talvez, possa ajudar mais alguém.

Para a matéria em inglês, clique aqui.